Bibliofilia: Amor por livros e por ler. O Bibliófilo ama ler e sente devoção pelos livros, colecciona-os e admira-os.

29/04/2013

Memoirs of a Geisha


Autor: Arthur Golden

Nº de páginas: 512

Primeira edição: Knopf, 1997

Sinopse: In Memoirs of a Geisha, we enter a world where appearances are paramount; where a girl's virginity is auctioned to the highest bidder; where women are trained to beguile the most powerful men; and where love is scorned as illusion. It is a unique and triumphant work of fiction—at once romantic, erotic, suspenseful—and completely unforgettable.




Opinião: Este é um daqueles livros cuja edição portuguesa tinha na minha estante, literalmente, há anos à espera de vez. Daqueles cuja leitura vamos adiando sem nenhuma razão em particular e que quando finalmente o lemos nos perguntamos como pode o nosso julgamento ser tão fraco, quando se trata de escolher umas leituras em detrimento de outras. 

A própria capa do livro, nas edições posteriores ao filme de 2005, sempre me atraiu na sua simplicidade e beleza, as opiniões no geral eram positivas, e no entanto só recentemente decidi ler este livro.

Memoirs of a Geisha é uma obra de ficção escrita na forma de memórias, contadas na primeira pessoa, de uma mulher que viveu o auge da cultura das Geisha japonesas, e também o seu declínio pós e durante a Segunda Guerra Mundial. Chiyo Sakamoto, a menina de invulgares olhos cinzentos que conhecemos no início do livro, é tão diferente da geisha Sayuri Nitta que narra a história, que quando esta inadvertidamente revela a sua origem humilde algures na história, o deslize é tomado por gracejo. Chiyo e a irmã Satsu são levadas da sua aldeia piscatória natal e os seus caminhos divergem quando Chiyo é vendida a um okiya (casa de residência e formação de geishas) de Gion, um importante distrito de geishas de Kyoto.

Nem sempre o facto da história ser contada na primeira pessoa significa que o leitor crie afinidade com a personagem principal, ou sequer a considere interessante. Neste caso, a história contada por esta narradora cativou-me desde as primeiras páginas, e a ligação à personagem principal e ao seu destino foi imediata. O autor constrói imagens com palavras, usando a voz narrativa de Sayuri, que conquista o leitor desde o início com as suas metáforas simples e inteligentes. As fantásticas descrições do ambiente, cerimónias, danças e costumes japoneses, e particularmente, da cultura geisha transportam-nos de forma brilhante para a história e para este (para mim) estranho e misterioso mundo de mulheres, mas dominado por homens. Fiquei maravilhada com as descrições dos belíssimos kimonos usados por estas mulheres, e fascinada pelos diferentes conceitos de beleza e erotismo retratados neste contexto cultural. Divertiu-me e fez-me reflectir no cruzamento de culturas com os soldados e cidadãos norte-americanos, do ponto de vista da cordial cultura japonesa, no decorrer da guerra. 

Seguimos a vida de Sayuri ao longo do intenso e duro treino para se tornar uma geisha, das particularidades do entretenimento dos homens e da posição relativa das mulheres numa micro-sociedade competitiva. Talvez o melhor elogio que posso fazer é ter dado por mim a pensar que nesta personagem como real e inegável, apesar de saber bem que é fictícia (apesar de baseada numa geisha real). 

Este livro faz parte da lista de 1001 Livros Para ler Antes de Morrer, e foi nessa categoria que entrou no meu Book Bingo, mas recomendo-o a qualquer pessoa, principalmente as que apreciam a cultura japonesa. É de facto uma leitura memorável.


O melhor: As descrições dos kimonos, cerimónias e ambiente em geral. A personagem de Sayuri.

O pior: Um twist um pouco repentino antes do final, sem no entanto prejudicar a conclusão.


4/5 - Gostei bastante

24/04/2013

Estante à Quarta (38)


(imagem daqui)

17/04/2013

Bibliofilia pelo Mundo (VII) - Word on the Water

Word on the Water - Uma Livraria sobre águas


Numa altura de grandes monopólios editoriais e gigantes que controlam a venda de livros, três homens decidiram seguir contra a corrente no negócio de livros. Mais concretamente a corrente dos canais da cidade de Londres.

Word on the Water (Palavra sobre a água) é o nome desta original loja de livros em segunda mão. As suas instalações consistem de uma barcaça holandesa da década de 1920 completamente móvel, que viaja pelos canais de londres, lançando âncora por algumas semanas em diversos bairros e comunidades da cidade antes de seguir viagem novamente. 

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A barca foi remodelada e o equipamento modernizado, mas os proprietários mantêm orgulhosamente uma decoração retro, que adiciona charme e uma aura de romantismo a esta livraria já de si tão fascinante. O seu conteúdo, além do equipamento de navegação, inclui dois gatos - Queenie and Kitty - cadeiras confortáveis para leitura, um fogão a lenha, um amplificador de som no telhado da barca (que serve de palco para actuação de musicais e leituras de obras) e estantes recheadas de livros.







(daqui)
Sendo o espaço a bordo limitado e dando ênfase à declaração de diferença do próprio espaço, a livraria faz questão de conter no seu catálogo uma cuidadosa selecção de "livros de qualidade" e livros que que não se encontrarão numa qualquer livraria normal. Grandes clássicos, autores locais, livros infantis, alguns bestsellers e obras mais alternativas e obscuras encontram-se lado a lado nesta livraria improvável, que procura não apenas vender livros acessíveis em segunda mão (todos os paperbacks a 1-3£), mas também promover a literacia e a cultura na comunidade, de uma forma diferente.


Existem centenas de estabelecimentos comerciais em Londres cujas instalações consistem de barcas que circulam pela cidade, mas esta é o único que se dedica a comercializar livros, fazendo dela a única livraria flutuante da capital, navegando durante todo o ano, com bom ou mau tempo e sempre convidando os clientes a entrar.






                        
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(foto de Rii Schroer)
O francês "The Captain", é o dono do barco e encarrega-se das questões de navegação, enquanto Paddy Screech, "The Doctor" e John Privett "The Professor" tratam do negócio de compra e venda de livros. Juntos, levam a barca-livraria a espalhar cultura e artes, boa disposição, música e, claro, livros, aos diversos ancoradouros dos canais londrinos, no melhor estilo alternativo e boémio. Uma experiência literária diferente para bibliófilos ou meros curiosos.


O blog da livraria está desactualizado, mas para quem for em breve a Londres e quiser saber onde pára por estes dias a Word on the Water, ou simplesmente quiser acompanhar esta livraria especial, pode fazê-lo através do Twitter ou Facebook desta livraria independente.


  

11/04/2013

Bibliofilia #6

Bibliofilia é...


...Depressão pós-livro.






10/04/2013

Estante à Quarta (37)


(imagem daqui)

08/04/2013

The Great Gatsby


Autor: F. Scott Fitzgerald

Editora: Alma Books (2012)

Nº de páginas: 213

Publicado originalmente: Charles Scribner's Sons (1925)

ISBN: 1847492584

Sinopse: Jay Gatsby is the man who has everything. But one thing will always be out of his reach ...
Everybody who is anybody is seen at his glittering parties. Day and night his Long Island mansion buzzes with bright young things drinking, dancing and debating his mysterious character. For Gatsby - young, handsome, fabulously rich - always seems alone in the crowd, watching and waiting, though no one knows what for. 

Beneath the shimmering surface of his life he is hiding a secret: a silent longing that can never be fulfilled. And soon this destructive obsession will force his world to unravel.


Opinião: Muitos leitores se sentem defraudados com este O Grande Gatsby e eu entendo o porquê. Neste livro pouco há de grandioso se olharmos apenas para a forma desta história e a realidade das suas personagens. Não é um page turner cheio de reviravoltas, acontecimentos surpreendes e personagens apaixonantes. É, sim, uma narrativa curta e que consideraria até pouco rica em eventos, com uma primeira parte lenta e altamente descritiva de uma realidade com a qual, nós, leitores europeus do século XXI, não nos identificamos. Com personagens que não compreendemos totalmente e que sugerem pouco mais do que futilidade, dinheiro de berço e vidas privilegiadas. 

No entanto, na minha perspectiva, este livro tem a grandiosidade que o autor lhe procurou dar. Scott F. Fitzgerald decidiu escrever o "ultimate American novel" e o resultado foi O Grande Gatsby. 
A escrita é fantástica, sedutora nas nuances e entoações e ao mesmo tempo forte e desapaixonada, como que atirada ao leitor por quem escreve sem se importar se alguém vai ler. 

A história é-nos trazida pela perspectiva de Nick Carraway, que se muda para a rica Long Island, nos arredores da grande cidade de Nova Iorque. Esta mudança de residência vai permitir-lhe voltar a socializar com os seus amigos Tom e Daisy, uma nova geração de famílias endinheiradas e bem posicionadas socialmente, e que vivem as suas vidas numa frívola nuvem de eventos sociais, viagens e dinheiro. Ao mesmo tempo, a mudança vai também proporcionar a Nick o contacto com Jay Gatsby, o proprietário da maior mansão de Long Island (palco de estrondosas e dispendiosas festas de arromba e o local onde todos querem estar) mas que ninguém parece conhecer. 

A primeira parte do livro, descritiva e lenta em ritmo, transporta o leitor para esse ambiente da sociedade americana corrupta e endinheirada, e prepara-o para a confrontação e o desvendar dos mistérios de Gatsby. 

Fitzgerald traça um retrato de uma sociedade americana da época do pós-guerra, com a crítica do que se reconhece que ela tem de pior, e no entanto se aceita como dado adquirido. Uma sociedade corrupta de valores morais, em que o  "dinheiro antigo" das famílias abastadas se opõe ao "dinheiro novo" dos homens que constroem as suas próprias oportunidades. 

O Grande Gatsby é um retrato preciso e melancólico de uma época. A escrita de Fitzgerald é fabulosa para e o facto de ser um livro curto resulta brilhantemente. Após uma fase altamente descritiva do contexto da acção, um desencadear de acontecimentos em catadupa surge no último terço do livro e traz a narrativa a um final abrupto e até anti-climático. Toda a familiarização inicial com esta sociedade reverte para o final, em que as decisões das personagens determinam os acontecimentos, e são determinadas pelo mundo em que vivem. Juntamente com Nick, a personagem que nos narra a história, procuramos no final encontrar algo que dê sentido a estas personagens e aos seus destinos. Pessoalmente, senti-me tão desalentada e conformada com a maneira como tudo se desenrola, como o próprio Nick.

Um pequeno livro, que li numa belíssima edição que inclui biografia e fotos da vida do autor; um clássico moderno que recomendo e me faz esperar ansiosa pela nova adaptação cinematográfica que deverá estrear este ano. 

O melhor: A escrita, o retrato e a crítica social e o final.

O pior: A pressão de estar a ler aquele que é considerado o melhor clássico americano, sem no entanto estar por dentro da realidade da época nos Estados Unidos, nem da literatura americana em geral.

4/5 - Gostei bastante

03/04/2013

Estante à Quarta (36)

Para os bibliófilos com jeito para bricolage e com livros velhos e desinteressantes guardados.

(Publicado com detalhes aqui)